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Archive for the ‘Livros’ Category

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III

Áspero amor, violeta coroado de espinhos, brejal entre tantas paixões eriçadas, lança das dores, coroa da cólera, por quais caminhos e como te dirige a minha alma? Por que precipitaste teu fogo doloroso, de súbito, entre as folhas frias do meu caminho? Quem te ensinou os passos que até mim te levaram? Que flor, que pedra, que humo mostraram minha morada? O certo é que tremeu a noite pavorosa, a árvore chegou todas as copas com seu vinho e o sol estabeleceu sua presença celeste, entretanto que cruel amor me cercava sem trégua até que me lançando com espadas e espinhos abriu em meu coração um caminho de chamas.

Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada


Livro por Pablo Neruda

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A Parábola da Andorinha

 
 
 

A Parábola da Andorinha

 
 

 

“Certa vez houve uma inundação numa imensa floresta. O choro das nuvens que deveriam promover a vida dessa vez anunciou a morte. Os grandes animais bateram em retirada fugindo do afogamento, deixando até os filhos para trás. Devastavam tudo o que estava à frente. Os animais menores seguiam seus rastros. De repente uma pequena andorinha, toda ensopada, apareceu na contramão procurando a quem salvar.

As hienas viram a atitude da andorinha e ficaram admiradíssimas. Disseram: ‘Você é louca! O que poderá fazer com um corpo tão frágil?’ Os abutres bradaram: ‘Utópica! Veja se enxerga a sua pequenez!’ Por onde a frágil andorinha passava, era ridicularizada. Mas, atenta, procurava alguém que pudesse resgatar. Suas asas batiam fatigadas, quando viu um filhote de beija-flor debatendo-se na água, quase se entregando. Apesar de nunca ter aprendido a mergulhar, ela se atirou na água e com muito esforço pegou o diminuto pássaro pela asa esquerda. E bateu em retirada, carregando o filhote no bico.

Ao retornar, encontrou outras hienas, que não tardaram a declarar: ‘Maluca! Está querendo ser heroína!’ Mas não parou; muito fatigada, só descansou após deixar o pequeno beija-flor em local seguro. Horas depois, encontrou as hienas embaixo de uma sombra. Fitando-as nos olhos, deu a sua resposta: ‘Só me sinto digna das minhas asas se eu as utilizar para fazer os outros voarem’.”

AUGUSTO CURY

Fala pra mim: tem como não se apaixonar pelos livros desse cara?! Acho meio impossível…

*Extraído de “O Vendedor de Sonhos – O Chamado” – São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2008.

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Um dia daqueles!!!

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Selvagem

 
 

"Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse casa dele, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem — pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela — apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não se acerta, mas, uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai.  Se ele fareja e sente que um corpo-casa é livre, ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: agente se engana e pensa que é a gente mesma que está relinchando de prazer ou de cólera, a gente se assusta com o excesso de doçura do que é isto pela primeira vez".

 

Clarice Lispector In Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres

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Before … As it all began!
 
 
 
It’s twilight," Edward murmured. […] "It’s the safest time of day for us," he said, answering the unspoken question in my eyes.
"The easiest time. But also the saddest, in a way … the end of another day, the return of the night.
 Darkness is so predictable, don’t you think?" He smiled wistfully.
 "I like the night. Without the dark, we’d never see the stars." Ѽ
 
 
 
Option three: Edward loved me. The bond forged between us was not one that could be broken by absence, distance, or time.
And no matter how much more special or beautiful or brilliant or perfect than me he might be, he was as irreversibly altered as I was.
As I would always belong to him, so would he always be mine.
 
 
 
"The thought of you, still, white, cold… to never see you blush scarlet again,
to never see that flash of intuition in your eyes when you see through my pretenses…
it would be unendurable."
 
 
 
 
"And So the lion fell in love with the lamb."
 
 
 
"I’d never seen him struggle so hard for words. It was so…human."
 
 
  
"I dazzle people?"
 
 
 
"Do I dazzle you?"
 

 
 
"I was prepared to feel… relieved. Having you know about everything, not needing to keep secrets from you.
But I didn’t expect to feel more than that. I like it. It makes me… happy."
 
 
 
"You’re intoxicated by my vere presence."
 
 
 
"Are you still faint from the run? Or was it my kissing expertise?"
 
 
  
"The blush on your cheeks is lovely."
 
 
"You inspired this one."
 
 
  
And you’re worried, not because you are headed to meet a houseful of vampires,
but because you think those vampires won’t approve of you, correct?"
 
 
"I told you — you don’t see yourself clearly at all. You’re not like anyone I’ve ever known. You fascinate me."
 
 
"You are exactly my brand of heroine."
 
 
  "I may not be human, but I’m still a man."
 
 
"I was not finished kissing you,Don’t make me come over there."
 

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Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
 
Poesia de José Saramago, romancista, poeta, dramaturgo e autoditada.

Nasceu em 16/11/1922, na aldeia ribataneja de Azinhaga, em Portugal e em 1998 ganhou o prêmio Nobel da Literatura.
Vive atualmente na Ilhas Canárias.

(in PROVAVELMENTE ALEGRIA, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1985, 3ª Edição)

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Nunca te ví … sempre te amei

 

Nunca te vi… sempre te amei

Março 3, 2008 – 6:08 pm

Alguns livros e filmes são verdadeiramente importantes em nossas vidas. São como tatuagens nas costas: às vezes nem nos damos conta de que estão ali, mas fazem parte de nós. E há ainda aqueles que marcam uma época, uma geração, várias gerações, que passam para o imaginário popular, para o inconsciente coletivo, que gravam uma sentença nas almas até dos que nunca souberam de sua existência.

Quem nunca escutou a frase Nunca te vi… sempre te amei? De todos os títulos loucos dados a filmes no Brasil, este foi um dos mais felizes, pelo menos no que diz respeito à fácil memorização e ao apelo que faz ao imaginário. Quando exibido aqui no Brasil, no primeiro semestre de 1988, eu era um garoto com 16 anos incompletos e com duas novidades em minha vida: a faculdade e um vídeo-cassete. Lembro do pôster nas revistas de cinema da época, mas só fui ver o filme muitos anos depois. Ele reúne várias coisas que adoro: troca de correspondências (ô, saudade!), bibliofilia e, claro, cinema bem feito.

Para quem não sabe, o filme é baseado no livro 84 Charing Cross Road, que reúne a correspondência trocada, durante vinte anos, entre a escritora Helene Hanff e os empregados da Marks & Co, livraria antiquário que ficava em Londres no endereço que dá título ao livro e ao filme. Sempre achei o título brasileiro uma forçada de barra que dá a entender que existia um romance entre Helene e Frank Doel, seu principal correspondente. É verdade, eles nunca se viram. É verdade, é uma história de amor (mas não personificado). É verdade, a chamada americana para o filme pode levar a entender isso (Um grande caso de amor que começou em uma pequena livraria). É verdade, em alguns momentos o filme sugere a existência de um amor platônico, mas é algo MUITO platônico, um amor mais fraternal, de simpatia entre humores e afinidades. Nunca uma paixão arrebatadora, um amor homem-mulher.

O filme virou um cult. Os personagens principais vividos por dois monstros: Anne Bancroft e Anthony Hopkins. A saudosa Anne foi duplamente responsável não só pela defesa carismática de sua personagem mas pela própria realização do filme. Foi ela quem convenceu Mel Brooks, seu marido, a produzi-lo.

84 Charing Cross Road – prefiro o título original – foi uma dessas histórias que me fizeram percorrer o “caminho contrário” de ver o filme e só depois ler o livro. Até onde saiba, no Brasil, o livro acompanhou o sucesso do filme. Teve duas edições – tiradas no mesmo mês – em junho de 1988 e sumiu. Há uns quatro meses, dei de cara com um exemplar numa estante promocional (3 livros por 10 reais) logo na entrada da Baratos da Ribeiro, livraria de usados em Copacabana. Neste fim de semana, li-o e revi o filme. Que vontade de conhecer Londres! E que saudades de quando trocava cartas com meio mundo! Os envelopes, os selos, as surpresas (fotos? postais? panfletos?), os papéis diferentes… A tecnologia matou todo esse romantismo. Adoraria receber cartas outra vez.

Voltando à história de Helene Hanff, devo dizer que alguns pontos de seu relacionamento com os livros divergem do meu, mas ainda assim, o livro e o filme são uma ode à bibliofilia. Divido com vocês e comento alguns de meus trechos preferidos.

* * * * *

Os livros chegaram direitinho. O Stevenson é tão bonito que está encabulando minhas estantes de caixotes de laranjas. Quase que tenho medo de mexer num velino tão macio e nas pesadas páginas de cor creme. (…) Jamais pensei que tocar num livro pudesse dar tamanha alegria.
(Abrindo o texto, a cena com Bancroft que mostra esta passagem)

No dia em que Hazlitt chegou, abriu-se em “odeio ler livros novos”, e eu bradei “Camarada!” a quem quer que o tenha possuído antes de mim.
(Com raras exceções, não gosto de livros marcados, mas essa sensação de o livro abrir-se em uma página muito lida anteriormente é extraordinária. É como se o leitor anterior estivesse tentando se comunicar com você! Há um trecho de outra carta que fala bem sobre isso. É o seguinte…)

Sua aparência é tão nova e tão docemente antiga a ponto de não se acreditar que alguém o tenha lido antes; mas leram. Vota e meia ele se abre nos passos mais deliciosos, como se o fantasma do antigo dono me ficasse indicando coisas que nunca lera anteriormente.

Newman chegou há quase uma semana e agora é que estou começando a recuperar-me. Deixo-o sobre a mesa o dia inteiro, volta e meia paro de bater à máquina e estendo a mão para tocá-lo. Não é porque seja uma primeira edição; é que nunca vi livro tão bonito. Sinto-me vagamente culpada por ser dona dele. (…) ele pede para ser lido à beira do fogo na poltrona de um cavalheiro – não num divã de segunda mão, numa toca de um só cômodo, no térreo de um sobradão em ruínas.
(Acontece a mesma coisa comigo. Os livros que chegaram mais recentemente ficam ao alcance de minha mão, próximo ao computador. Vez por outra paro de escrever e pego um. Abro, avalio, aprecio, leio um trecho. É um namoro. Até que “nos casemos”, eu o conheça por inteiro e arranje seu lugar nas estantes. No filme, o final deste trecho é transformado em diálogo com uma amiga de Helene e é um dos momentos mais tocantes. Quando ela diz como e onde o livro merecia ser lido, a amiga retruca: “Se eu fosse este livro, iria querer viver aqui”. Lindo, não? É exatamente assim que acontece. Os livros procuram quem cuide deles.)

Meus amigos são gozados a respeito dos livros. Lêem tudo que é best seller e o fazem tão depressa quanto possível, desconfio que passam por alto de muita coisa. E NUNCA lêem nada pela segunda vez, de forma que um ano mais tarde não recordam de uma só palavra.
(Toda essa carta é interessantíssima, mas este trecho me chama mais atenção. Eu me imponho uma cota razoável de leitura– 9 a 12 livros por mês – mas há livros os quais não tenho a mínima pressa de largar. Passo semanas e até meses lendo-os, enquanto outros vão sendo devorados. Outro ponto importante é esse de ler várias vezes certos livros. Tenho dezenas de livros aguardando sua primeira leitura e eles são preteridos por outros que já li várias vezes e que lerei muitas outras até o fim dos meus dias.)

 

Texto e imagens retirado do Blog  Sempre Algo a dizer :  http://www.sandrofortunato.com.br/salgo/2008/03/03/nunca-te-vi-sempre-te-amei/

Todos os créditos são de  Sandro Fortunato, uma pessoa que infelizmente, não conheço pessoalmente, más que venho acompanhando já a alguns meses e pelo o qual nutro grande respeito e admiração, um ser humano ímpar, uma pessoa perspicaz, um bom observador; ESPERTO; PENETRANTE; SAGAZ e que imputa a mim o crescente desejo pela literatura.

Bom …. a razão que me motivou a postar o texto do querido Sandro aqui foi justamente o fato de ter visto pela primeira vez esse filme hoje, em mais uma das constantes madrugadas de insônia que tenho tido atualmente, cansada de olhar para a tela do computador e sem inspiração para nada, resolvi desligá-lo e procurar algo na TV que pudesse me distrair, e por sorte ouví a chamada do filme no comercial de uma emissora, e fiquei lá sentada, frente á televisão esperando o começo do mesmo, confesso, envergonhada é claro, de que não me recordo se quer ter ouvido falar dele alguma vez, em 1988 quando foi exibido aqui no Brasil pela primeira vez,  com certeza tal fato passou despercebido facilmente por uma garotinha de 12 anos, mas enfim … finalmente tive a oportunidade de vê-lo, e como diz o ditado: " Antes tarde do que nunca ", ou seria … " Nunca te ví …. Sempre te amei", porque foi justamente essa a sensação, me apaixonei pela história, pelos personagens, é como se essa paixão estivesse sempre alí, a espera de ser descoberta. Concordo plenamente com a resenha feita pelo querido Sandro, e como ele, farei  "o caminho contrário " estou procurando pelo livro agora, para que possa lê-lo.

BB

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Meu pé de Laranja Lima

 
 
 

Meu Pé de Laranja Lima

 

(Trechos do livro)

Foi uma das últimas compras que fiz, antes de sair da Almedina.
Só posso dizer que valeu a pena!

“A gente vinha de mãos dadas, sem pressa de nada pela rua.”

“Até agora aquela música me dava uma tristeza que eu não sabia compreender.”

“Será que ele não sabia que se podia cantar para dentro? Fiquei calado. Se não sabia eu não ensinava.”

“Também não tinha vontade de cantar. Meu passarinho que cantava p’ra dentro voou p’ra longe.”

“Eu era doido por histórias. Quanto mais difíceis, mais eu gostava.”

“Mamãe nasceu trabalhando.”

“Quando eu escutei essa história dela fiquei tão triste que prometi que quando fosse poeta e sábio eu ia ler minhas poesias para ela…”

“Não sobrara nada para mim.”

“Sempre eu tinha que ser o último.”

“Emburrei. Sentei no chão e encostei a minha zanga no pé de Laranja Lima.”

“Meu peito explodiu numa mágoa enorme.”

“- Não espero nada. Assim a gente não fica desapontado.”

“Foi uma ceia tão triste que nem dava vontade de pensar.”

“Foi por isso que eu o abracei.”

“Garanto que ela estava chorando escondido. E todos estavam com vontade de fazer o mesmo.”

“(…) tinha os olhos vermelhos como se tivesse chorado doído.”

“- (…) Vamos dormir. O sono faz a gente esquecer tudo.”

“Uma mistura de tudo criou-se na minha alma. Era ódio, revolta e tristeza.”

“Havia uma mágoa dolorida tão forte nos seus olhos que se ele quisesse chorar não ia poder.”

“Minha dor era muito maior que qualquer fome.”

“E foi me dando uma coisa. (…) E senti que estava estourando. Rebentando todo por dentro. Rebentando aquela dor tão grande que passara o dia ameaçando.
(…)
Só pude falar.
(…)
E a voz foi sendo consumida pelas lágrimas e soluços.”

“Suspendi as minhas mãos e alisei o seu rosto. Passei os dedos de leve sobre os seus olhos tentando colocá-los no lugar, sem aquela tela grande. Tinha medo que se não o fizesse, aqueles olhos iriam me seguir a vida inteira.”

“(…) boca com gosto salgado. O resto do meu choro que custava a passar.”

“Havia uma alegria na família que não se via há muito tempo.”

“Fiquei no escuro engolindo o resto do choro e achando que a cama era a coisa melhor para sarar uma surra.”

“E vieram as novidades. As brigas. As descobertas de um mundo onde tudo era novo.”

“Os dias de verão demoravam a carregar a noite.”

“o vulto de Mamãe apareceu na esquina. Era ela. Ninguém no mundo se parecia com ela.”

“- Sim. Mas isso não é direito. Você não deve fazer mais isso. Isso não é um roubo, mas já é um ‘furtinho’.
– Não é não, D. Cecília. O mundo não é de Deus? Tudo que tem no mundo não é de Deus? Então as flores são de Deus também…
Ela ficou espantada com a minha lógica.
– Só assim que eu podia, professora. Lá em casa não tem jardim. Flor custa dinheiro… e eu não queria que a mesa da senhora ficasse sempre de copo vazio.
Ela engoliu em seco.
(…)
– Nunca esse copo vai ficar vazio. Quando eu olhar para ele vou sempre enxergar a flor mais linda do mundo. E vou pensar: quem me deu essa flor foi o meu melhor aluno. Está bem?”

“A humilhação doía mais que a própria dor.”

“Dali do alto eu me sentia maior que o mundo.”

“- Eu nunca mais quero sair de perto de você, sabe?
– Por quê?
– Porque você é a melhor pessoa do mundo. Ninguém judia de mim quando estou perto de você e sinto um ‘sol de felicidade dentro do meu coração’.”

“E completamente desamparados, começamos a chorar juntos e baixinho…”

“Fazia falta ao meu ouvido, à ternura do meu ouvido aquele jeito de falar meio carregado e cheio de ‘tu’.”

“Eu não sabia se devia parar ou se tinha de obedecer… Mas na minha dor tinha resolvido uma coisa. Seria a última surra que eu levaria, seria a última mesmo que morresse para isso.”

“Eu doía todo a cada movimento. Depois eu soube que queriam chamar o médico, mas não ficava bem.
(…) Mal podia respirar, quanto mais engolir. Ficava numa sonolência danada e quando acordava a dor ia diminuindo.”

“Uma semana foi preciso para que eu me recuperasse todo. Não provinha das dores nem das pancadas o meu desânimo. Verdade que em casa começaram a me tratar bem que dava para desconfiar. Mas faltava qualquer coisa. Qualquer coisa importante que me fizesse voltar a ser o mesmo, talvez a acreditar nas pessoas, na bondade delas.”

“A realidade era que não conseguia deixar de esticar a minha dor de dentro.”

“Nasceu o primeiro raio de sol de alegria. Meu coração se adiantou na frente cavalgando a minha saudade. Ia ver o meu amigo mesmo.”

“Todo mundo que viajava era feliz.”

“Apoiei a cabeça sobre os braços e fiquei assim, me sentindo amolecido e triste.”

“A pobreza lá em casa era tanta que a gente desde cedo aprendia a não gastar qualquer coisa. Tudo custava muito dinheiro. Era caro.”

“Estávamos rindo e a tragédia se afastara toda.”

“Aquilo era a coisa mais bonita do mundo. Pena que eu não pudesse contar p’ra ela que vira a poesia viver.”

“- (…) Não é isso. A vida a gente não resolve assim de uma só manobra.”

“Fiz uma coisa que raramente fazia ou gostava de fazer com os meus familiares. Beijei o seu rosto gordo e bondoso…”

“Agora que descobrira mesmo o que era ternura, em tudo que eu gostava colava ternura.”

“Comecei a suar frio e meus olhos ameaçavam ficar escuros.
(…)
Fui me levantando sem sentir.
(…)
Mas eu não podia responder. Meus olhos começavam a se encher de lágrimas. (…) Só queria correr, correr e chegar lá.
(…)
As lágrimas molhavam o meu rosto.”

“Fiz que não com a cabeça e saí andando devagarzinho, completamente desorientado. Sabia de toda a verdade. (…) Vomitei mais umas duas vezes e pude ver que ninguém se incomodava comigo. Que não havia mais ninguém na vida. Não voltei para a Escola, fui seguindo o que o coração mandava. De vez em quando fungava e enxugava o rosto na blusa do uniforme.”

“Surgiu um desabafo grande que eu nem esperava.”

“Durante três dias e três noites, fiquei sem querer nada. Só a febre me devorando e o vômito que me atacava quando tentavam me dar coisa para comer ou beber. Ia definhando, definhando. Ficava de olhos espiando a parede sem me mexer horas e horas.
Ouvia o que falavam a meu redor. Entendia tudo, mas não queria responder. Não queria falar. Só pensava em ir para o céu.”

“A casa foi-se vestindo de silêncio como se a morte tivesse passos de seda. Não faziam barulho. Todo mundo falava baixo. Mamãe ficava quase toda a noite perto de mim. E eu não me esquecia dele. Das suas risadas. Da sua fala diferente. (…) Não podia deixar de pensar nele. Agora sabia mesmo o que era a dor. Dor não era apanhar de desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar pontos na farmácia. Dor era aquilo, que doía o coração todinho, que a gente tinha que morrer com ela, sem poder contar para ninguém o segredo. Dor que dava desânimo nos braços, na cabeça, até na vontade de virar a cabeça no travesseiro.
E a coisa piorava.”

“Foi então que aconteceu uma coisa linda. A rua se movimentou para me visitar. Esqueceram que eu era o diabo em figura de gente.”

“Comecei a melhorar. Já conseguia engolir alguma coisa e sustentar no estômago. A febre só aumentava e os vômitos voltavam trazendo os tremores e o suor frio, quando eu me lembrava mais. (…) Pedia ao Menino Deus, se é que ele se importava alguma vez comigo, para que ele não tivesse sentido nada.”

“Como era fácil para uns morrer. Era só vir um trem malvado e pronto. E como era difícil para mim ir para o céu. Todo mundo estava segurando minhas pernas para eu não ir.”

“A fraqueza ia me dando uma sonolência contínua. Não sabia mais quando era dia ou noite.”

“A luz entrou e via-se uma nesga de céu lindo. Olhei o céu e de novo comecei a chorar.
(…)
Ela não entendia o que o céu significava para mim.”

“As coisas começaram a pegar um ritmo normal na casa. Já se ouvia barulho por todas as partes.”

“Mas poucos dias depois acabou. Estava condenado a viver, viver. Numa manhã, Glória entrou radiante. Eu estava sentado na cama e olhava a vida com uma tristeza de doer.”

“Era difícil recomeçar tudo sem acreditar nas coisas. A vontade era contar o que de fato existia.”

“Fez uma pausa. Ele também nunca mais ia esquecer daquilo para o resto da vida.
(…)
E Papai falava e falava sempre.
(…)
Fui escorregando pelos seus joelhos e caminhei para a porta da cozinha. Sentei-me nos degraus e contemplei o quintal com o morrer de todas as luzes. Meu coração se revoltara sem raiva. ‘Que quer esse homem que me pega no colo?’ Ele não é meu pai. Meu pai morreu. O Mangaratiba matou ele.
Papai tinha me seguido e viu que os meus olhos se encontravam de novo molhados.
(…)
Ele não entendia. Ele não entendia. (…)
Olhei os seus pés, os dedos saindo dos tamancos. Ele era uma velha árvore de raízes escuras. Era um pai-árvore. Mas uma árvore que eu quase não conhecia.
(…)
Agarrei-me soluçando aos seus joelhos.
– Não adianta, Papai. Não adianta…
E olhando o seu rosto que também se encontrava cheio de lágrimas murmurei como um morto:
– Já cortaram, Papai, faz mais de uma semana que cortaram o meu pé de Laranja Lima.”

“Hoje tenho quarenta e oito anos e às vezes na minha saudade eu tenho impressão que continuo criança. (…) Foi você, quem me ensinou a ternura da vida, meu Portuga querido. (…) Às vezes sou feliz na minha ternura, às vezes me engano, o que é mais comum.
Naquele tempo. No tempo de nosso tempo, eu não sabia que muitos anos antes, um Príncipe Idiota ajoelhado diante de um altar perguntava aos ícones, com os olhos cheios d’água:
‘POR QUE CONTAM COISAS ÀS CRIANCINHAS?’
A verdade (…) é que a mim contaram as coisas muito cedo.”


José Mauro de Vasconcelos

 
 
 
É pra mim, muito dificil acreditar que demorou anos para eu vir a ter conhecimento da existência dessa obra, e que por mera casualidade, em um momento de descanso na praia, minha querida Cris apareceu com diversos livros da escola onde atualmente é coordenadora, e justamente esse tenha me chamado tanto a atenção, lendo os trechos dessa triste e comovente história ( o Meu Pé de Laranja Lima), as lagrimas covardemente inundaram meus olhos, e meu coração ficou apertado e cheio de aféto por uma criança tão pequena que conheceu a dor e o grande sofrimento de perder um amigo de verdade que o amava, que lhe dava carinho e atenção, onde pode descobrir o verdadeiro significado da palavra aféto!
Esse livro é marcante, é de preencher a alma e eu o recomendo com louvor.

 

José Mauro de Vasconcelos

É dono de uma literatura leve e agradável, tendo feito grande sucesso junto ao público, infelizmente, a importância do trabalho de José Mauro não é devidamente reconhecida no Brasil.

A crítica francesa Claire Baudewyns afirma que suas obras "ce qui confère aux œuvres de José Mauro de Vasconcelos une poésie particulière née de l’alchimie entre monde réel et monde imaginaire." ("o que confere às obras de José Mauro de Vasconcelos uma poesia particular, nascida da alquimia entre o mundo real e o mundo imaginário", numa tradução livre

BB
 

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Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que…
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca
. (Machado de Assis, Dom Casmurro)
 
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BEIRUT – Elephant Gun
 
If I was young, I’d flee this town
I’d bury my dreams underground
As did I, we drink to die, we drink tonight
Far from home, elephant gun
Let’s take them down one by one
We’ll lay it down, it’s not been found, it’s not around
Let the seasons begin – it rolls right on
Let the seasons begin – take the big king down
Let the seasons begin – it rolls right on
Let the seasons begin – take the big king down
And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the night
And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the silence, all that is left is all that i hide
 
 
 

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The Little Prince

 
 
 
 
 
 
… it was then that the fox appeared.
"good morning" said the fox.

"good morning"
the little prince responded politely
altho when he turned around he saw nothing.

"I am right here" the voice said, "under the apple
tree."

"who are you?" asked the little prince, and added,

"You are very pretty to look at."

"I am a fox", the fox said.

"Come and play with me,"
proposed the little prince, "I am so unhappy."

"I cannot play with you," the fox said,
"I am not tamed."

"AH please excuse me,"said the little prince.
But after some thought, he added:
"what does that mean—‘tame’?"

"you do not live here," said the fox,
"what is it you are looking for?"

"I am looking for men," said the little prince.
"What does that mean—tame?"

"Men,"said the fox,
"they have guns, and they hunt.
It is very disturbing.
They also raise chickens.
These are their only interests.
Are you looking for chickens?"

"No," said the little prince.
"I am looking for friends.
What does that mean—tame?"

"It is an act too often neglected,"
said the fox.
"It means to establish ties."

"To establish ties?"

"Just that," said the fox.
"to me, you are still nothing more than
a little boy who is just like
a hundred thousand other little boys.
And I have no need of you.
And you, on your part, have no need of me.
To you I am nothing more
than a fox like a hundred thousand other foxes.
But if you tame me, then we shall need each other.
To me, you will be unique in all the world.
To you, I shall be unique in all the world. . ."

"I am beginning to understand,"
said the little prince.

"There is a flower. . .I think she has tamed me. . ."

"It is possible," said the fox.

"On earth one sees all sorts of things."

"Oh but this is not on the earth!"
said the little prince.

The fox seemed perplexed, and very curious.
"On another planet?"

"Yes"

"Are there hunters on that planet?"

"No"

"Ah that’s interesting! Are there chickens?"

"No"

"Nothing is perfect," sighed the fox.
But he came back to his idea.
"My life is very monotonous," he said.
"I hunt chickens; men hunt me.
All chickens are just alike,
and all the men are just alike.
And in consequence, I am a little bored.
But if you tame me,
it will be as if the sun came to shine on my life.
I shall know the sound of a step that will be
different from all the others.
Other steps send me hurrying back
underneath the ground.
Yours will call me, like music out of my burrow.
And then look:
you see the grain-fields down yonder?
I do not eat bread.
Wheat is of no use to me.
The wheat fields have nothing to say to me.
And that is sad.
But you have hair that is the color of gold.
Think how wonderful that will be
when you have tamed me!
The grain, which is also golden,
will bring me back the thought of you.
And I shall love to listen
to the wind in the wheat. . ."

The fox gazed at the little prince,
for a long time.
"Please—tame me!" he said.

"I want to, very much," the little prince replied.
"But I have not much time.
I have friends to discover,
and a great many things to understand."

"One only understands the things that one tames,"
said the fox.
" Men have no more time to understand anything.
They buy things all ready made at the shops.
But there is no shop anywhere
where one can buy friendship,
and so men have no friends any more.
If you want a friend, tame me. . ."

"What must I do, to tame you?
asked the little prince.

"You must be very patient," replied the fox.
First you will sit down
at a little distance from me
-like that-in the grass.
I shall look at you out of the corner of my eye,
and you will say nothing.
Words are the source of misunderstandings.
But you will sit a little closer to me,
every day…"

The next day the little prince came back.

"It would have been better to come back
at the same hour," said the fox.
"If for example, you came at four o’clock
in the afternoon,
then at three o’clock I shall begin to be happy.
I shall feel happier and happier
as the hour advances.
At four o’clock,
I shall be worrying and jumping about.
I shall show you how happy I am!
But if you come at just any time,
I shall never know at what hour
my heart is ready to greet you. . .
One must observe the proper rites. . ."

"What is a rite?" asked the little prince.

"Those also are actions too often neglected,"
said the fox.
"they are what make one day
different from other days,
one hour different from other hours.
There is a rite, for example, among my hunters.
Every Thursday they danse with the village girls.
So Thursday is a wonderful day for me!
I can take a walk as far as the vineyards.
But if the hunters danced at just any time,
every day would be like
every other day,
and I should never have any vacation at all."

So the little prince tamed the fox.
And when the hour of his departure drew near—

"Ah," said the fox, "I shall cry."

"It is your own fault," said the little prince.
"I never wished you any sort of harm;
but you wanted me to tame you. . ."

"Yes that is so", said the fox.

"But now you are going to cry!"
said the little prince.

"Yes that is so" said the fox.

"Then it has done you no good at all!"

"It has done me good," said the fox,
"because of the color of the wheat fields."
And then he added:
"go and look again at the roses.
You will understand now
that yours is unique in all the world.
Then come back to say goodbye to me,
and I will make you a present of a secret."

The little prince went away,
to look again at the roses.
"You are not at all like my rose," he said.
"As yet you are nothing.
No one has tamed you, and you have tamed no one.
You are like my fox when I first knew him.
He was only a fox
like a hundred thousand other foxes.
But I have made a friend,
and now he is unique in all the world."
And the roses were very much embarrassed.
"You are beautiful, but you are empty," he went on.
"One could not die for you.
To be sure, an ordinary passerby would think
that my rose looked just like you
–the rose that belongs to me.
But in herself alone she is more important
than all the hundreds of you
other roses: because it is she that I have watered;
because it is she
that I have put under the glass globe;
because it is for her
that I have killed the caterpillars
(except the two or three we saved
to become butterflies);
because it is she that I have listened to,
when she grumbled,
or boasted,
or even sometimes when she said nothing.
Because she is MY rose."

And he went back to meet the fox.
"Goodbye" he said.

"Goodbye," said the fox.
"And now here is my secret, a very simple secret:
It is only with the heart that one can see rightly;
what is essential is invisible to the eye."

"What is essential is invisible to the eye,"
the little prince repeated,
so that he would be sure to remember.

"It is the time you have wasted for your rose
that makes your rose so important.

"It is the time I have wasted for my rose–
"said the little prince
so he would be sure to remember.

"Men have forgotten this truth," said the fox.
"But you must not forget it.
You become responsible, forever,
for what you have tamed.
You are responsible for your rose. . ."

"I am responsible for my rose,"
the little prince repeated,
so that he would be sure to remember.

From the Little Prince by Antoine de Saint-Exupery

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